quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Assembleia de Deus se desliga da CGADB e da Ceimadac; Luiz Gonzaga cita necessidade de “reforma espiritual”

Agora é oficial. A Assembleia de Deus do 1º Distrito de Rio Branco não pertence mais às convenções estadual e nacional da denominação religiosa.
A decisão foi tomada em assembleia geral extraordinária na noite desta terça-feira, 09, como havia antecipado o ac24horas, no templo sede da entidade, na rua Antônio da Rocha Viana, no bairro Vila Ivonete, em Rio Branco, pela maioria da igreja.
A tradicional igreja deixa a CGADB e a Ceimadac para se filiar, depois de 75 anos, à CADB (Convenção das Assembleias de Deus no Brasil), entidade eclesiástica fundada há 60 dias em Belém do Pará, na chamada “igreja mãe” da instituição no Brasil. A CADB é comandada pelo pastor Samuel Câmara e conta com pelo menos 10 mil pastores. Mas esse número deve aumentar com mais adesões Brasil afora.
No longo culto, que foi conduzido pelo pastor Luiz Gonzaga de Lima, presidente da Assembleia de Deus no 1º Distrito, também foram apresentados os líderes de congregações, departamentos da instituição e pastores das chamadas regionais da igreja, um rito que ocorre anualmente na primeira semana de janeiro.
A votação foi presenciada pelo pastor Pedro Abreu de Lima, presidente da Convenção de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Acre, e seus auxiliares, que permaneceram no culto, do início ao final, sentados em bancos reservados para obreiros.
Pedro Abreu e auxiliares estiveram na assembleia geral desta terça-feira.
O pastor Luiz Gonzaga direcionou seu extenso sermão para temas relacionados a religiosidade e o que ele chama de “denominacionalismo”.
Citou diversas passagens bíblicas, entre elas a que afirma que “as portas do inferno não prevalecerão contra a igreja”.
“Religiosidade e denominacionalismo estes sim são manipuláveis. A preocupação de Deus é com a igreja dele”, afirmou Gonzaga.
O sermão de Luiz Gonzaga foi um misto de mensagem bíblica com desabafo. Ele lembrou que durante o tempo em que esteve na presidência da Ceimadac não havia a “politicagem” que há atualmente na entidade.
Também chegou a citar o exemplo do regime chavista da Venezuela ao fazer um paralelo sobre a manipulação do sistema político/eclesiástico que há na CGADB e Ceimadac. “Desde Hugo Chavez o sistema de governo da Venezuela é manipulado.”
O presidente da Assembléia de Deus se referiu a Reforma Protestante para justificar o desligamento. Para ele, a igreja, apesar de admitir, parece ter medo de uma reforma.
“Pense num povo que tem medo de reforma somos nós. Gostamos muito de fazer seminários sobre Reforma Protestante, mas temos medo de reforma”, lembrou.

Disputa por poder: o que está por trás do racha da Assembleia de Deus no Acre

No mês em que completa 75 anos de fundação em Rio Branco, a Igreja Assembleia de Deus no 1º Distrito da capital, considerada a maior denominação evangélica do Acre, vive um contexto de polêmica e controvérsias por causa de sua eventual saída das convenções estadual e nacional da organização religiosa, a Ceimadac (Convenção de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Acre) e a CGADB (Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil).
Comandada pelo pastor Luiz Gonzaga de Lima, a igreja em Rio Branco está prestes a migrar para a CADB – Convenção das Assembleias de Deus no Brasil –, recém-fundada pelo pastor Samuel Câmara, que também é presidente da entidade, com pelo menos 10 mil pastores, em Belém do Pará, lugar onde a denominação foi fundada em junho de 1911. A saída, que já é dada como certa, será definitivamente decidida em assembléia geral extraordinária na noite desta terça-feira, 09, no templo sede da igreja, na avenida Antônio da Rocha Viana, em Rio Branco.
Internamente, o assunto gera polêmica. Ensinados a vida inteira, de acordo com os preceitos bíblicos, a não promoverem “divisão no reino”, como pregam os próprios líderes religiosos, cristãos se depararam com um discurso controverso da liderança da AD local.
O tema é tratado como “racha” pelo presidente da Ceimadac, pastor Pedro Abreu de Lima. Em “nota de repúdio e esclarecimento”, Pedro Abreu e seus auxiliares da Convenção das Assembleias de Deus no Acre, aconselham aos “assembleianos” a votarem contra o desligamento da AD da convenção.
A priori, Luiz Gonzaga não quer dar declarações. Prefere esperar para falar após o resultado da assembléia geral desta terça. Já Pedro Abreu se antecipa e não descarta a possibilidade de entrar na Justiça para vetar a saída da igreja em Rio Branco da entidade comandada por ele. “Nosso jurídico está analisando. Sem confronto”, diz. Além da tal “unidade”, há outro prejuízo para a Ceimadac: a queda na arrecadação financeira.

Os bastidores do poder na Assembleia de Deus e as oligarquias eclesiásticas

Não é de hoje que Luiz Gonzaga e Pedro Abreu disputam poder na Assembleia de Deus do Acre. A briga entre ambos começou lá atrás, quando Luiz Gonzaga perdeu a presidência da Ceimadac para Pedro Abreu, que também preside a Assembleia de Deus em Senador Guiomard. Envolve um emaranhado de interesses que passa não só pela política eclesiástica. Vai bem além. Há disputa por status e influência, inclusive em governos.
Mas o enredo local dessa guerra é bem menor, proporcionalmente, que a disputa nacional. Samuel Câmara, depois de sucessivas derrotas na CGADB resolveu criar uma convenção, tudo sempre em nome de Deus, depois de amargar inúmeras derrotas para José Wellington Bezerra da Costa, que presidiu a convenção até 2017, e depois foi substituído pelo próprio filho, José Wellington Júnior.
Disputas judiciais e ameaças inimagináveis entre ministros religiosos, com apelo divino, culminaram no racha da entidade. José Wellington se mantém no poder através do filho. Samuel Câmara continua poderoso, mas em outra convenção.
A fundação da CADB surge no norte do Brasil, região em que a Assembleia de Deus é dominada pela família Câmara.
Samuel em Belém (PA), e agora no comando da CADB, e Jonatas, seu irmão, como presidente da Assembléia de Deus em Manaus, considerada uma influente e poderosa igreja no Amazonas, que elege deputados, entre eles o deputado federal Silas Câmara, esposo de Antônia Lúcia, ex deputada pelo Acre, e opina em decisões de governo. O império assembleiano do norte conta ainda com a rede Boas Novas de rádio e TV e uma fundação.